André Gilberto Boelter Ribeiro


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segunda-feira, 18 de outubro de 2010

O gaúcho sob dois olhares






Dos autores gaúchos são indiscutivelmente excelentes são Érico Veríssimo e Cyro Martins. O primeiro, cruzaltense de nascimento, e por conseqüência gaúcho por natureza, se propôs a retratar em suas obras o Rio Grande do Sul dos grandes feitos e realizações, principalmente na trilogia O Tempo e o Vento. Embora a sua obra seja cheia de grandes personagens, o que ganhou maior destaque foi sem dúvida os que fazem parte da família Terra Cambará e sua epopéia pampeana.
Outro autor de notória ciência é Cyro Martins, nascido em Quaraí, e não menos gaúcho que Veríssimo, destacou-se tanto na Psiquiatria como na Literatura. No entanto, trilhou caminho oposto ao de seu conterrâneo cruzaltense e retratou o gaúcho, não nas suas façanhas, mas na gradativa decadência dos estancieiros. Esse assunto é abordado na trilogia O gaúcho a pé (composta por Sem rumo, Porteira Fechada e Estrada Nova).
No estudo da literatura costuma-se dividir as obras em períodos literários ou escolas literárias para melhor compreensão. Érico Veríssimo é um autor que é normalmente enquadrado nos livros didáticos como pertencente a escola
Érico Veríssimo descreve o gaucho na sua trajetória literária como um arquétipo de conduta. Enfim, os personagens são semelhantes aos personagens homéricos, com bravura e altivez na defesa das terras e da honra, já que a honra Cambará está nas ações e nas atitudes. Tanto que uma das obras que compõem a trilogia de Veríssimo possui traços da literatura norte-americana de Wilde. Eles, os personagens, vivem no tempo histórico e são usados como reforço de valores discutíveis.
Em contraposição a essa descrição do gaúcho homérico, está a obra de Cyro Martins que demonstra não mais uma visão romantizada e sim as problemáticas da realidade da população “dos pampas”.
Cyro aponta a existência de novos grupos sociais, tais como os ex-campesinos e da classe média que ora se politizava. E o tempo que utiliza nas suas narrativas não é mais o histórico, mas um tempo atual. E seus personagens são despidos das glórias, vivendo numa sociedade decadente.
Cyro Martins recria o gaúcho como o anti-herói que está excluído da sociedade, através da falência da estância e da ida de alguns gaúchos a marginalidade urbana. Contrariamente, as conquistas dos personagens de Érico Veríssimo.
O gaúcho de Cyro não é o mesmo gaúcho de Érico. Pelo contrário, ele não é mítico, não vive de suas glórias. Cyro trata do gaúcho como sendo um trabalhador rural, enquanto Érico olha sob viés da patronagem. Cyro retrata a sociedade injusta e desigual da época, com a política de coronelismo centralizador, e que coloca como marginalizado o trabalhador rural que busca a sua sobrevivência em outros meios, não mais aqueles gloriosos de Érico Veríssimo.
Enfim, vale a pena ler esses dois autores com visões distintas sobre o mesmo assunto.

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